o mar do poeta

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sábado, maio 23

24 de JANEIRO de 1989 - SALVAMENTO NO MAR

A BORDO DA VEDETA DE FISCALIZAÇÃO DA CLASSE ALBATROZ - BRAVO 1 - MONDEGO

O SIGNATÁRIO
O SIGNATÁRIO - PATRÃO DA VEDETA E SEU SOTA PATRÃO, ALGURES NO MÁRES DA CHINA



O SIGNATÁRIO VENDO O RADAR


Um caso, este de certa gravidade, aconteceu a dois portugueses, um médico e um advogado.

Tinham um catamaran à vela no Clube Náutico situado na praia de Choc Van em Coloane.

Num sábado à tarde, como o tinham feito já por diversas vezes foram passear com a embarcação para além da área em que podiam exercer essa actividade. Navegavam ao largo a sul de Coloane quando um dos estais se partiu.

Devido às fortes correntes e ao vento foram arrastado para o mar alto. Não poderam dar o alerta por não terem aparelho de rádio.

Por volta das seis e meia da tarde, o encarregado do Clube Náutico deu por falta do catamaran e comunicou o caso às autoridades marítimas.

A vedeta “Bravo” em serviço na zona exterior, avisada do ocorrido fez de imediato uma batida em toda a área das águas territoriais de Macau, nada tendo encontrado.

Nesse dia encontrava-me de folga e eram para aí onze e meia da noite quando regressei a casa. Para minha surpresa encontrava-se à minha porta um agente da PMF que me aguardava.

Ao ver-me transmitiu a ordem do Comando para me apresentar com urgência na Divisão mar não referindo o motivo de toda aquela urgência. Como estava de folga só agora regressava a casa para dormir.

Contrariado tive de me fardar e segui no jeep que me aguardava para a Divisão Mar.

Através do Comandante da Divisão fiquei a saber o motivo pelo qual me chamaram com tanta urgência. Teria de se utilizar dos serviços da vedeta “Bravo-1” para irmos à procura dos dois portugueses.





A VEDETA ENTRANDO NO PORTO INTERIOR REBOCANDO O CATAMARAN




Aguardámos ainda a chegada de mais alguns menbros da tripulação, comparecendo sòmente mais dois.
Na companhia do Comandante da Divisão do seu Adjunto e de um Marinheiro Electricista lá seguimos para sul de Coloane por volta das duas horas da madrugada.

Ligámos o radar e girobussula, batendo em seguida toda a zona a sul de Coloane e ilhas chinesas ainda mais para sul, mas não havia sinais do catamaran.

O mar estava calmo, o vento soprava de leste e a visibilidade era boa, mas como ali começava o Oceano Pacífico, por mais que tentassemos avistar o catamaran nada encontrávamos.

Através do Comando em Macau foi solicitado auxílio aéreo às autoridades de Hong-Kong.

O avião disponibilizado para o efeito sobrevoou a vedeta e ficou a saber as áreas já percorridas.

Cerca de meia hora depois de nos ter sobrevoado entrou novamente em contacto conosco comunicando a posição do catamaran. Estava a sessenta milhas náuticas a sul de Coloane e com estas cordenadas para lá seguimos a toda a velocidade.









CHEGADA A MACAU - A IMPRENSA LOCAL, TANTO CHINESA COMO PORTUGUESA DERAM CONTA DO ACONTECIMENTO







Por fim lá avistámos o catamaran e seus dois tripulantes já bastantes desidratados.

Rápidamente os recolhemos para bordo da vedeta amarrando o catamaran à popa e seguindo de imediato para Macau quando eram quase uma da tarde.

Entretanto levantou-se um temporal com vagas bastantes altas e fortes mas a vedeta lá ia sulcando as águas com imensa dificuldade.

A páginas tantas uma enorme e forte vaga embateu no pára-brisas da vedeta partindo o vidro e atingindo a água o quadro eléctrico o que provocou um curto-circuito e incêndio na sala de comando que rapidamente foi extinto.
Como resultado deste incidente ficamos sem radar e sem girobussula estando ainda bem longe de Macau.

Embora não tivesse dormido ou comido, as grandes vagas não me fizeram enjoavam e antes pelo contrário, ia contando anedotas para levantar o moral do pessoal.

O catamaran quando foi encontrado seguia uma rota pouco usada pela navegação o que tornou difícil a sua detecção. Felizmente que tudo correu pelo melhor!









Chegamos a Macau eram aí umas cinco da tarde. No cais uma ambulância aguardava a nossa chegada e os dois portugueses foram de imediado conduzidos ao Hospital Conde de S. Januário para serem assistidos.

O Comissário Adjundo da Divisão Mar desembarcou dando-me entretanto ordens para seguir para a minha zona de serviço.

Recusei acatar estas instruções pois não tinha comida a bordo e ele bem sabia disso. Disse-lhe que só poderiamos sair dali quando todo o pessoal da guarnição tivesse comparecido e tivessemos tomado, tardiamente, a refeição do almoço, o que só veio a verificar-se depois das oito da noite, altura em que seguimos para a zona mas com mais uma noite perdida.










Passada uma semana sobre o corrido eis que os dois portugueses dirigiram-se à Divisão Mar para agradecerem ao Comandante todo o empenho feito para o seu resgate convidando-o para um jantar convite esse extensivo à minha pessoa, o que recusei.

Não tinha sido apenas eu mas toda a tripulação, na altura quatro elementos que no momento contribuiram para o exito da missão. Não tendo estes sido convidados eu também não poderia ir!

Muitos mais episódios passados no mar poderiam ser narrados mas para evitar tornar-me enfadonho ficamos por aqui...

Os meses foram se passando e o ano que me competia andar embarcado chegava ao fim. Este foi o meu último embarque.

Dali saí para Chefiar o Sector das Ilhas, outro novo desafio que se me deparava como poderemos verificar no capítulo respectivo.

Terminava assim a minha actuação como Comandante de uma vedeta da PMF.
A vida passada no mar não é fácil, e é desta forma no cumprimento de missões e não só, que esses homens aprendem o que é a soliriedade, empenho e força e coragem para enfretarem o seu dia a dia.
Com a ajuda de Deus Nosso Senhor, as minhas comissões no mar, embora árduas, decorreram de uma forma positiva, pois tinha sempre a meu lado Deus.

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