o mar do poeta

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quarta-feira, abril 1

123 EM MACAU - 1966


Esta estátua do Coronel Mesquita que se encontrava defronte do Leal Senado de Macau, foi das primeiras e serem derrubadas pelos manifestantes.
TANQUES DO EXÉRCITO PORTUGUÊS EM PLENA AVENIDA ALMEIDA RIBEIRO

(Foto extraída das memórias de Macau)


HISTÓRIA> MACAU> TO NEM AÍ

O Motim 1-2-3


por Emerson Santiago


Setembro 5, 2008


A história da revolta que quase pôs fim ao domínio português sobre Macau nos anos 60

TO NEM AI - Tratar de lusofonia sem abordar assuntos relacionados a Brasil ou Portugal. Será que consigo?

Rua de Taipa uma das regiões administrativas de Macau

Rua de Taipa, uma das três regiões administrativas de Macau

MACAU - Quando o assunto é o declínio do império colonial português, logo é mencionada a guerra colonial travada nas três principais ex-colônias portuguesas na África (Guiné-Bissau, Angola e Moçambique). Fala-se também aqui e ali sobre a ocupação de Goa pelas tropas indianas, e só. Mas Macau também testemunhou um momento decisivo em 1966, o chamado ‘Motim 1-2-3′.

No Brasil, as garras do regime militar começavam a pairar sob toda a sociedade; pouco depois na França ocorreria o maio de 1968 que abalou o status quo do país. Na China, Mao Tsé Tung andava a todo vapor a promover a Revolução Cultural, uma forma de mobilizar a população do país novamente em torno de sua figura. E é na Revolução Cultural chinesa que vamos encontrar a origem deste acontecimento histórico.

Tudo começa com a velha e conhecida burocracia estatal portuguesa. Em 1966 os residentes chineses da ilha de Taipa, (uma das três divisões administrativas de Macau) esforçaram-se para obter uma licença do governo português para a construção de uma escola privada. Como não obtiveram resposta alguma da administração, iniciaram por conta própria a construção dela.

Em 15 de novembro de 1966 os trabalhadores da construção, responsáveis e demais colaboradores além de residentes simpatizantes da iniciativa e jornalistas foram violentamente perseguidos e presos. O acontecimento serviu oportunamente de pretexto para que a imprensa chinesa e grupos pró-comunistas da região atacassem o governo de Macau, de modo a sugerir este acontecimento como exemplo do mal que havia no domínio estrangeiro em toda a China.

A constante menção e debate do acontecimento serviu para que surgisse o descontentamento entre os chineses de Macau. No dia 30 de dezembro ocorre um protesto de operários, donas de casan e professores diante do palácio do governo.

Em 3 de Dezembro a situação agrava-se devido à invasão de militantes comunistas ao gabinete do governador. No caminho, frases de efeito maoístas e canções revolucionárias eram entoadas; o grupo foi expulso pela polícia, porém uma multidão já descontente com os desmandos acumulados de tempos anteriores juntou-se aos radicais.

Iniciou-se um motim no mesmo dia. Monumentos, prédios e arquivos foram vandalizados. Foi declarada lei marcial pelo governo colonial e as tropas entram em cena. Saíram mortos 11 e feridos cerca de 200 deste protesto.

O motim recebeu o nome de 1-2-3 em alusão aos dias em que se deram os protestos. O problema é que a situação na melhorou após os acontecimentos. A revolução cultural continuava a servir de inspiração para o descontentamento embora não houvessem mais manifestações. Os residentes europeus migraram para Hong Kong e Portugal.

Em 11 de dezembro uma delegação dos manifestantes liderada por Leong Pui encontrou-se com o governador, à época, o brigadeiro José Manuel de Sousa e Faro Nobre de Carvalho, que cedia às pressões dos manifestantes.

O problema é que muitos desses manifestantes estavam ligados a regiões vizinhas chinesas, como Cantão (Guangdong), e representavam na verdade interesses da China comunista. Diante de tamanho problema as autoridades portuguesas cogitaram seriamente a entrega de Macau ao governo da República Popular da China.

Curiosamente o governo comunista mostrou-se neste momento simpático aos interesses do estado novo português, contribuindo para que Macau continuasse como província portuguesa, impedindo, por exemplo a invasão do exército vermelho chinês ao território, algo que assustaria a administração inglesa de Hong Kong, sua metrópole, o Reino Unido, e seu poderoso e fiel aliado, os Estados Unidos.

Delegações de intermediários diplomáticos de ambos os lados (China e Portugal à época não tinham relações diplomáticas). Enquanto as árduas discussões e negociações entre os dois lados ocorriam, a população adotava a política dos “três nãos”: não pagar impostos, não prestar serviços ao governo e não vender produtos aos portugueses.

Tal atitude fez com que a situação do governo de Macau ficasse extremamente complicada, pois esta se via pressionada por Lisboa e pela população macaense local.

Enfim, no dia 29 de janeiro de 1967 o governo de Macau e a RPC chegaram a um acordo resultando num pedido de desculpas do governador à comunidade chinesa. Entre os items do acordo estava também atestado que Portugal abria mão da ocupação perpétua de Macau e reconhecia a soberania ”de facto” da China sob Macau (daí o termo usado durante todo o período até 1999 quando da entrega de Macau: território chinês sob administração portuguesa).

Ficava ainda proibido o apoio das autoridades de Macau aos nacionalistas chineses de Taiwan (Formosa) e qualquer tipo de asilo político a eles. Um dos principais personagens em todo o episódio foi comendador Ho Yin, que com seu controle sobre a comunidade chinesa e a sua orientação política anti-comunista foi decisivo para que Macau continuasse como território português.

Inclusive a revolta é atribuída a uma momentânea perda de controle de comendador sobre a comunidade chinesa de Macau.

macau O Motim 1 2 3Emerson Santiago é brasileiro, advogado, professor de mandarim e é um apaixonado pelas culturas lusófonas.



( Ao Senhor EMERSON SANTIAGO o meu muito obrigado)

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Eu fiz parte desta história, e sofri na pele as restrições impostas a todos os portugueses, felizmente que tinha a minha namorada que me ajudou imenso e como tal os dias se passaram de uma forma calma e ordeira para mim, embora tivesse sido convocado pelo exército para me apresentar no Quartel General, ordem essa que não acatei.

Na altura vivia bem perto do Hospital Kiang Vu, de onde partiram os manisfestantes para toda a cidade.

Aprendi algo com esta "GUERRA DO CHAUMINE" ou 123 como nós a apelidámos, e muitas lojas chinesas que tomaram parte e que nada vendiam aos portugueses, essas nunca mais lá fui comprar nada.

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